Já percebeu que seu tempo não é mais só seu? Que, no fundo, parece que estamos sempre devendo atenção a alguma coisa?
O mundo em que vivemos gira em torno de dinheiro. Precisamos dele para sobreviver, então corremos atrás dele. Empresas fazem o mesmo, investindo dinheiro onde há oportunidades de gerar ainda mais dinheiro. E uma das maiores oportunidades dos últimos tempos foi a internet.
Com a chegada da internet, as empresas viram uma forma de se conectar diretamente com as pessoas, de mostrar seus produtos, suas mensagens, suas ideias. E foi aí que surgiram as redes sociais. Diversas empresas perceberam que essa conexão direta tinha um potencial gigantesco e começaram a investir bilhões de dólares nesse mercado. E essa quantidade absurda de dinheiro significa uma coisa: milhares, talvez milhões de pessoas trabalhando com um único objetivo — fazer você continuar rolando a tela.
O motivo? Simples. O modelo de negócio das redes sociais é baseado em anúncios. Quanto mais tempo você passa nelas, mais anúncios você vê. E quanto mais anúncios você vê, mais dinheiro elas ganham. Mas para que isso aconteça, você precisa continuar ali, consumindo conteúdo sem parar. E, no final das contas, o preço que você paga não é em dinheiro. É em tempo. Tempo de vida.
Sua vida é a soma de tudo aquilo onde gastou seu tempo. Se a vida inteira você tirou leite de vaca e plantou sementes numa fazenda, esse será o resumo da sua vida. Se você gastou horas rolando a tela sem propósito, é isso que preencheu sua existência nesse período. Se você passa a maior parte do seu dia no celular, esse tempo não desaparece, ele se torna um pedaço da sua vida.
As empresas de tecnologia não apenas lucram com o seu tempo, mas, de certa forma, estão comprando partes da sua vida, uma notificação de cada vez – e estão fazendo isso muito bem:
- A pessoa média gasta em torno de 4 horas e 37 minutos no celular todos os dias.
- O brasileiro médio gasta ainda mais, em torno de 5 horas e 12 minutos no celular todos os dias.
Para que você tenha uma noção do quão assustador isso é: O dia tem 24h. Podemos dividí-lo em 3 partes de 8h cada. A primeira parte é gasta dormindo, já que a maioria dorme em torno de 8h por noite. A segunda parte é gasta trabalhando, já que a maioria trabalha 8h por dia. Sobra a última parte, as últimas 8h. Sendo bem otimista, gastamos em torno de 4h comendo, cuidando de nós mesmos, nos transportando, conversando e etc. Sobram 4h por dia e as pessoas decidem gastá-las na frente de uma tela vendo memes, discussões inúteis e um loop infinito de entretenimento descartável.
Com base no tempo de vida médio de ~76 anos no Brasil, o resumo da vida da maioria é:
- 25,3 anos dormindo
- 25,3 anos trabalhando
- 12,6 anos comendo, cuidando de si e se transportando
- 12,6 anos em frente a uma tela
Você quer que o resumo da sua vida seja dormir, trabalhar, existir e rolar uma tela?
Elon Musk certa vez disse que já somos ciborgues. Um ciborgue é, por definição, um ser humano com partes tecnológicas integradas ao corpo. E, convenhamos, para muita gente, o celular já é uma extensão do próprio ser. Se alguém perde o celular hoje, é capaz de sentir ansiedade, angústia, como se estivesse perdendo uma parte de si.
E sabe o que é mais curioso? Quando os primeiros celulares foram criados, a ideia era facilitar a comunicação, tornar nossa vida mais prática. Nenhum dos inventores imaginava que, décadas depois, estaríamos viciados nesses dispositivos a ponto de prejudicar nossa saúde mental e nosso bem-estar. Mas cá estamos; Presos em um ciclo vicioso de notificações, distrações e comparação social.
Então, o que fazer? O primeiro passo é tomar consciência do problema – isso você acabou de fazer. O segundo passo é decidir fazer algo. A decisão de como gastar sua vida ainda está em suas mãos.
Como usar menos o celular?
- Envolva-se em projetos profundos e significativos
O grande problema não é só que o celular é viciante, mas que muitas pessoas não têm uma meta clara e significativa na vida. Quando você tem um projeto realmente importante para você, que exige sua atenção e esforço, o celular automaticamente se torna menos interessante. Não sobra tanto tempo para distrações quando você está comprometido com algo maior.
- Use o método “Any-Benefit” para eliminar redes sociais desnecessárias
O conceito do Any-Benefit Mindset, descrito por Cal Newport no livro Trabalho Focado (Deep Work), explica que muitas pessoas usam algo apenas porque enxergam algum benefício, sem avaliar o custo real. Redes sociais, por exemplo, têm benefícios óbvios: Instagram pode ajudar a socializar, Twitter pode manter você informado, LinkedIn pode trazer oportunidades de trabalho.
Mas ninguém para para pensar no outro lado da balança: Qual é o custo de passar horas ali diariamente? Te faz sentir mais mal do que bem? É a atividade mais produtiva que você poderia estar fazendo? A forma certa de decidir se você deve continuar usando uma rede social é pesar os prós e os contras de maneira honesta. Se os contras forem mais pesados que os benefícios, delete sem medo.
“Vão sentir minha falta?” Algumas pessoas podem perguntar: “Você desativou a conta? Foi hackeado? Perdeu a senha?” Você pode simplesmente dizer que está dando um tempo. Mas, na realidade, você saiu de vez. E logo as pessoas vão se acostumar. A verdade é que ninguém realmente sente falta de ninguém nas redes sociais. Você não está tão presente na vida dos outros quanto imagina. E, ao perceber isso, você verá como estar fora das redes não afeta sua vida da maneira que parecia antes.
- Torne o celular algo chato e pouco atraente
Para diminuir o uso do celular, você precisa fazer com que ele perca a graça. Algumas estratégias práticas incluem:
- Apagar todos os jogos e aplicativos desnecessários.
- Aplicar o método do Any-Benefit para eliminar redes sociais que não são essenciais.
- Ativar o modo preto e branco para tornar a tela menos estimulante.
- Desativar notificações não essenciais. As únicas notificações realmente importantes são as do banco (para monitorar transações e evitar golpes) e, em alguns casos, notificações de mensagens urgentes do trabalho. Todo o resto é ruído. Se alguém realmente precisar de você, vai ligar.
- Guardar o celular longe, dentro de uma gaveta ou em outro cômodo. O simples fato de ter que levantar para pegá-lo já reduz o uso desnecessário.
O intuito é usar essa incrível invenção chamada celular para facilitar sua vida, não para consumir ela. É encontrar o ponto ideal.
Assuma o controle dele, assuma o controle da sua vida. Retome as rédeas do seu tempo e verá sua vida mudar; para melhor.