Eu acredito que o futuro será igual ao passado. O nosso objetivo não mudou, apenas a fase que estamos. Mas por que isso importa? Bom, saber que o barco está indo em direção a um iceberg te dá a opção de mudar o curso, ou pular do barco. Saber para onde a humanidade está se dirigindo te ajuda a tomar decisões mais acertadas no presente.
Eu não sou nenhum futurista. Não faço previsões do futuro. Apenas acredito que se o que causou o presente não mudou, o futuro tende a ser da mesma forma. Nós causamos a situação atual da humanidade, e não mudamos tanto. Nos tempos das cavernas precisávamos sobreviver. Sobreviver é manter a morte numa distância aceitável. A morte é quando todas as energias do nosso corpo se esvaem. Logo, sobreviver é evitar gastar energia e consumi-la sempre que podemos. Por essa razão, nosso objetivo é fazer com que tudo gaste menos energia e agregue mais. Esse tem sido o nosso objetivo. Ele não mudou.
Se você observar, antes precisávamos caçar ou coletar para obter alimento, hoje precisamos apertar alguns botões e ele chega na porta. Antes, precisávamos girar a manivela para ligar o motor do carro. Depois, passamos a dar partida de dentro da cabine, mas ainda precisávamos trocar as marchas manualmente. Com o tempo, surgiu o câmbio automático e, agora, estamos entrando na era dos carros que se dirigem sozinhos. Antes, precisávamos sair, interagir, conversar, se conectar para poder encontrar nossa outra metade. Hoje, não mudou tanto, mas as pessoas fazem grande parte desse trabalho apenas deslizando o dedo para o lado, ou curtindo duas fotos no Instagram. Antes, precisávamos ler todas as páginas do livro, interpretar, conectar pontos para só então escrever um resumo. Hoje, você pede para o ChatGPT e ele te dá o resumo em segundos. Eu poderia continuar com essa lista de facilidades, mas ficaria redundante.
Tudo está requerindo menos gasto de energia, menos esforço. Em outras palavras, tudo está ficando mais fácil. Em resumo, estamos nos dirigindo a um futuro que já foi retratado no filme Wall-e. Onde não precisaremos andar, pensar, cozinhar, ou interagir, pois teremos máquinas para fazer tudo isso por nós.
O que acontece com uma criança, quando os pais fazem tudo por ela? Ela cresce dependente, mimada e frágil. Esses traços se estendem à vida adulta, criando pessoas que não dão sossego a seus familiares, que podem ser dominadas pela frustração e contribuir para o aumento das taxas de suicídio por não conseguirem o que desejam. Além disso, tornam-se fonte de sofrimento para os outros e, muitas vezes, desenvolvem traços narcisistas, sempre focando em si mesmas. O resultado é uma sociedade formada por indivíduos egoístas, frágeis e indulgentes.
“Tempos difíceis criam homens fortes. Homens fortes criam tempos fáceis. Tempos fáceis criam homens fracos. Homens fracos criam tempos difíceis.” — G. Michael Hopf
O erro e a solução
Essa é a direção que o mundo está tomando. Mas o erro não está em facilitarmos o que era difícil, o erro está em se acostumar com a facilidade. É um erro de atitude, de reação, não de evolução. As pessoas usam as facilidades para se tornarem preguiçosas, complacentes, confortáveis. Esse é o problema.
Essas facilidades só mostram que a humanidade evoluiu. Essas facilidades partiram de dificuldades. Ou seja, para que fique fácil, antes tem que ser difícil. Para que um corpo entre em forma, antes tem que haver insatisfação ou necessidade. Para que a riqueza seja gerada, alguém tem que se cansar da pobreza. Para que haja algum tipo de evolução, alguma adversidade precisa ser superada. Após isso, a reação correta não é se tornar complacente, é buscar o próximo desafio.
Toda geração tem seus desafios, seus problemas, suas adversidades. É obrigação dela resolver esses problemas para que a próxima geração não precise passar por eles e possa focar nos desafios seguintes. Em uma perspectiva mais prática, se na sua geração a sua família ainda não resolveu o desafio financeiro, cabe a você quebrar as correntes da pobreza e enriquecer. Assim, seus filhos e netos poderão focar em talvez encontrar a cura para o Alzheimer, ou o câncer.
A frase completa poderia ser: “Tempos difíceis criam homens fortes. Homens fortes criam tempos fáceis. Tempos fáceis criam homens fracos. Homens fracos criam tempos difíceis para si mesmos para que possam se fortalecer.” — G. Michael Hopf e Richard Oliveira
Juntando tudo. Somos condicionados a facilitar a nossa sobrevivência. Isso torna a vida mais fácil. O problema é que a vida não é feita para ser fácil. Logo, aceitar essa facilidade só leva à complacência, fraqueza e um péssimo futuro para a humanidade. A solução é buscar a próxima adversidade, o próximo desafio, a próxima montanha, a próxima cruz para carregar.
Há uma explicação fisiológica para isso. A estrutura do nosso cérebro responsável por nos motivar a buscar algo funciona da seguinte forma: Definimos uma meta. Criamos um desejo. Descobrimos o topo da montanha. Após isso, o cérebro libera dopamina que nos dá energia e motivação para buscar aquilo. Buscamos, alcançamos, a dopamina vai embora, pois já cumpriu seu papel. De repente, o topo da montanha não é tão entusiasmante assim. Porém, de lá nós enxergamos um topo mais alto ainda. E o ciclo se repete.
É da nossa natureza. Buscamos algo que não temos. Algo que falta. Nosso cérebro nos mune com os recursos necessários para isso. Com a motivação necessária para isso. Sempre será assim.
E na verdade, eu gostaria de reformular o que eu acabei de dizer, não fomos condicionados a facilitar as nossas vidas, fomos condicionados a superar desafios e usufruir dos frutos deles. Mas não por muito tempo, apenas até o próximo desafio chegar.
É a da nossa natureza. É assim que evoluímos. É assim que o mundo continuará progredindo. É nossa missão perpetuar essa evolução e não simplesmente nos contentarmos com seus frutos.